Friday, January 21, 2011

Dos textos encontrados...

"O amor quer-se sujo"

Eu concordo e apoio. Concordo e apoio mas explico a minha perspectiva, claro, que isto do “sujo” pode suscitar muito tipo de interpretação (especialmente por aqui…).
Amor. Sujo.
Amor daquele que nos faz dobrar em dois de antecipação, que nos faz salivar. Que nos faz sonhar sonhos daqueles gritados e suados e tremidos. Que nos faz dizer as palavras “amo-te” ao ritmo dos batimentos do coração (a – tun-tun – mo – tun-tun – te – tun-tun…).
É tudo muito bom e tudo muito bem, mas não é com falinhas mansas que o pessoal chega lá.
É preciso que haja um certo indecoro, uma certa má educação, uma certa falta de pudor.
É preciso mostrar o nosso lado mais básico e primitivo. É preciso deixar que o sentimento que nos consome as entranhas se mostre através delas, num caos desconexo, ardente, desorganizado, tumultuoso… doloroso, até.
É preciso querer ser comido e fodido por aquela pessoa, por “oposição” a fazer amor com ela (isso vem depois…). É preciso, no meio de uma sala cheia de gente, dizer “Fodia-te. Aqui e agora. Fodia-te”.
É preciso haver raiva contra aquela pessoa por ela nos fazer querer ser possuídos até ao tutano, raiva por ela nos fazer querer possuí-la até cegarmos. Raiva e rancor daqueles que fazem do chão de uma cozinha o mais perfeito e ideal dos locais para se comer…
É preciso haver palavras rudes e brutas, cruas e nuas que dizem logo no imediato o que se quer e deseja. É preciso resvalar o confrangimento e a contenção para o desaparecimento.
É preciso saber qual o som dos gemidos mais profundos da pessoa, o sabor da sua pele suada, a força das suas mãos quando nos agarram, a intensidade da sua respiração quando lhe beijamos o pescoço, mordemos a orelha.
É preciso saber ao que soa um “não pares” aflito e suplicante. É preciso saber qual o toque da sua língua em todo o nosso corpo.
É preciso roçar o limiar da dor, o limiar do incómodo, o quase deixar marca permanente.
É preciso saber ao que soam gritos e palavras rasgadas por bocas sedentas. É preciso saber com que cor luzem olhos inchados e semi-fechados de prazer.
É preciso saber qual a dor de uma mordida dada por tanto se querer. É preciso saber o que é sentir dedos a entrarem-nos pela boca a dentro, procurando a nossa língua, e calando-nos assim do grito que viria fazer companhia à dor anterior.
É preciso saber o que é ficar-se com o cheiro daquela pessoa pelo corpo, com o sabor dela entranhado na boca. É preciso saber-lhe o cheiro e o sabor de cor.
É preciso querer inspirar e lamber aquele corpo, mesmo sabendo-o não totalmente próprio para tal. É preciso abocanhar e lamber e sugar, sem medo de nada. É preciso saber o que é ter aquele corpo a deslizar pelo nosso, num frenético chinfrim de suor e saliva.
É preciso saber como a pessoa se vem, como geme quando se vem, como treme, como sustem ou não a respiração, de que forma se lhe abre a boca e fecham os olhos. É preciso saber de que maneiras diferentes se vem. É preciso saber e perceber as diferenças entre a força explosiva de certos orgasmos e a doçura dilacerante de outros.
E é preciso que a outra pessoa saiba o mesmo sobre nós.
O Amor, daquele que dói e faz doer, ou seja, o único que vale a pena, tem de ser visceral, para além da carne, para além da partilha. Tem de nos fazer ferver o sangue, perder os sentidos, ganhar nova vida. Tem de nos fazer sofrer com o desejo de querer sentir de novo aquelas mãos, de sentir de novo aquele sabor, aquela boca a respirar ofegante no nosso corpo.
O Amor quer se queira, quer não, quer-se sujo, desbocado, barulhento, rufia, mal-cheiroso, e, de vez em quando, armado em parvo com tudo e todos, fodido com tudo e todos.
E nada, mas nada, faz tão bem à vida do amor do que duas pessoas saberem estas coisas todas uma da outra e amarem-se por e para isso. De entre todas as outras razões que possam ter para se amarem, terem estas.
E aí sim, ama-se, diz-se Amo-te de boca e peito cheio e sabe-se exactamente o porquê de o dizermos e sentirmos.
Sujo. Definitivamente.

"Arrancado" descaradamente daqui - outramerdaqualquer.blogspot